Think Olga

Ser mulher é maravilhoso, mas nem sempre é fácil (a gente sabe bem). Encontrar um espaço onde a gente possa ler sobre o universo feminino com seriedade e profundidade me deixa muito feliz.

O site Think Olga se dedica a elevar o nível da discussão sobre a feminilidade — e consegue. A jornalista Juliana de Faria Kenski, à frente do Olga, foi a criadora da elogiada Campanha Chega de Fiu Fiu, que teve imensa repercussão mundo afora e se propõe a combater o assédio em lugares públicos.

Conversei um pouco com a Juliana para saber a história do Olga e quais os próximos passos da campanha. Olha só que legal:

– Como começou o Olga?
Sou jornalista e me especializei em moda com o passar dos anos. Trabalhei neste setor por dois anos, em sites e revistas especializadas. Aprendi e me diverti demais escrevendo sobre o tema. Mas um dia percebi que não eram sobre as roupas que mais gostava de escrever. E sim sobre as mulheres que usavam (ou queriam usar) aquelas roupas. Então Olga nasceu deste sonho de criar narrativas sobre o feminino menos estereotipadas, livres de repetições temáticas e mais “pé no chão”. Instigar um debate honesto, com que as mulheres reais pudessem se identificar.

– Como a Campanha Chega de Fiu Fiu surgiu?
A campanha vem de um lugar muito pessoal. Sempre me incomodei demais com o assédio nas ruas. A primeira vez que aconteceu comigo eu tinha apenas 11 anos. Foi um momento triste, chocante, confuso. Mas nunca me senti confortável para falar livremente sobre o assunto – por medo, por vergonha, por acreditar que eu talvez pudesse ser a culpada pelo assédio. Sabia que várias amigas e conhecidas já tinham passado por situações semelhantes. E apesar de notar que era um problema que muitas de nós mulheres vivenciávamos, nunca encontrei material que pudesse me ajudar a entender o tema. Muito menos uma pesquisa, uma campanha, uma matéria que pudesse me confortar e me fazer entender que esse comportamento é sim errado e que as mulheres merecem caminhar pela cidade sem ser intimidadas ou humilhadas.

Lançamos uma pesquisa online que contou com a participação de quase 8 mil mulheres. E 86% delas disseram que não gostam dessas cantadas. Outros dados alarmantes: 90% já trocou de roupa e 81% já deixou de fazer algo, como pegar um ônibus ou ir à padaria, por medo de ser assediada. E 85% dessas mulheres afirmaram que já sofreram com a tal “mão boba”. Um absurdo!

– Quais próximos passos da Campanha Chega de Fiu Fiu você pode dividir com a gente?
Vamos lançar um mapa colaborativo. Ou seja, queremos mapear os pontos mais críticos de assédio e outras violências contra mulheres no Brasil a partir da ajuda de terceiros. Mulheres podem registrar suas experiências (e homens e mulheres podem registrar também o que testemunharam). São categorias como: assédio verbal, assédio físico, ameaça, intimidação (stalking), atentado ao pudor (masturbação em público), estupro, violência doméstica… Também acrescentamos racismo, homofobia e transfobia.

As internautas marcam exatamente onde a violência ocorreu (com um pin), além decontar com um espaço para desenvolver a história (também há um pequeno questionário sócio-econômico). Há a opção de enviar o depoimento para a Secretáriade Políticas para Mulheres. Garantimos a segurança dos dados e a opção departicipar anonimamente. A ideia não é registrar os locais perigosos do Brasil os quais mulheres devem evitar. Nosso olhar, na verdade, é o de transformação. Conhecer quais são os pontos críticos, entender por que eles assim são e buscar mudanças.

– Que mensagem você gostaria de deixar para quem ler o post?
Apalpar uma mulher no metrô lotado, um tapa no bumbum de uma desconhecida, gritar palavras de baixo calão de dentro do conforto e segurança do carro não são demonstrações de carinho, são assédio. E, com a minha experiência no assunto, garanto que não são resultado da roupa, do comportamento ou do local onde a mulher está. Nenhuma mulher está protegida dessa violência. E a culpa nunca será delas. A culpa é apenas do culpado, claro: o assediador. Sem participação, o mapa Chega de Fiu Fiu não funcionará. Então peço que todas as mulheres que se incomodem com esta violência participem! E vamos lutar por uma cidade mais segura para todas nós.

1 comentário COMENTE TAMBÉM

Adorei o tema da sua estreia, Fabi! Parabéns pela entrevista e por disseminar este site que tanto amamos para mais pessoas.
beijão

Comentários fechados.

quem faz os achados
Colaboradores