O mundo místico e encantado de Luda Lima

As aquarelas da artista Luda Lima têm um estilo bem característico e autoral e estão em diferentes revistas, jornais e livros.

Como Luda diz, ela já “morou aqui e acolá, nesse mundão, para entender melhor a si e desenvolver seu trabalho. Agora está sossegada em seu estúdio em Brasília, fazendo aquarelas do que sente, e aquarelas sob encomenda.”

É dela também a identidade do nosso projeto Livro de Cabeceira na Confeitaria Mag.

Luda acabou de lançar o livro Eu tenho unhas, com o poeta brasiliense Nicolas Behr, e fará uma oficina no próximo sábado em São Paulo, a primeira da Escola do Fazer — uma iniciativa da publicação Amo Meu Fazer. No workshop Aquarelos, há um “entrelaçamento de imagens e palavras”: as aquarelas de Luda encontram os haikais da poeta Karine Rossi.

Conversei um pouco com a Luda sobre seu processo criativo, referências e inspirações:

Você já participou de alguns livros com propostas bem diferentes. Pode nos contar um pouco sobre eles e como foi o processo criativo em geral?
Sim, tenho participação em 3 livros, cada um com conceitos bem diferentes. O primeiro foi o Gaveta de Bolso, com a Juliana Cunha. Foi um processo bem livre, os desenhos tinham cara de esboço, cara de desenhos de caderno. O livro era um convite a confabular como Juliana e dar espaço para o leitor escrever/desenhar junto com a gente no próprio livro.

O segundo foi o ebook Arjuna, o Guerreiro Notável. As ilustrações desse livro digital já foram mais elaboradas, demoraram mais tempo, e eu tinha prazo a cumprir. Senti muita responsabilidade, pois se trata de uma adaptação simplificada para crianças, de uma parte da estória do épico Bhagavadgita. E como eu tenho uma simpatia grande pelo hinduísmo, fiz com muito carinho. E até pedi consulta de Yogues, para saber se a representação estava de acordo.

Já o Por acaso? era para ser um zine, mas ficou tão robusto que o consideramos como um livro. As meninas da Pingado-Prés (editora) me convidaram, eu me empolguei e chamei a Roberta AR para criarmos algo, já que a gente queria trabalhar juntas há algum tempo. Foi uma criação muito espontânea. A Roberta tinha o texto em esboço, e eu antes questionei com ela se faríamos algo sobre destino e escolhas. Em uma semana fluiu e ficou pronto. Tenho muito orgulho pois reflete um momento de virada tanto na minha vida quanto no da Roberta.

O último livro foi um processo demorado e até dolorido. Eu tenho unhas é um livro de poemas ansiosos com o Nicolas Behr, poeta famigerado daqui de Brasília, e que há muito tempo tinha admiração. O Nicolas e eu terminamos o livro em 2012, mas engavetamos. Voltamos a rever no final do ano passado, melhorando desenhos e poemas, e sentimos que era o momento do livro ir ao mundo, de forma independente (inventamos a Editora Roedora). Às vezes é melhor guardar projetos e retomar depois.

E para os demais trabalhos, como é o seu processo criativo?
Sempre varia, mas acho que tenho dois processo: o com o chicote do prazo, ou o com o chicote da vida. O chicote do prazo é aquele que você precisa entregar para um cliente, e independente da sua vontade, você tem que terminar. Para isso, se não sai uma ideia muito boa a tempo, aposto na que já tem, por livre associação, e tento pintá-la da melhor forma possível. Quando já se está há um tempo trabalhando com criação, a gente desenvolve umas ideias intuitivas mais rápido, acho. Agora, criação com o chicote da vida, é quando bate mesmo aquela necessidade de se expressar. A famigerada “inspiração”, né? Acredito que ela vem por estalo de amor, ou estalo de uma ‘Peia’. Mas só quando cai uma real em ti, e você é grato por entender aquilo.

Quais suas maiores referências em aquarela? E outros artistas de técnicas diferentes que a inspiram?
Sou muuito fã da Nomoco, por ser muito inovadora da forma de pensar o uso da aquarela. E admiro demais a Maestria do Cárcamo, que é um artista realista, mas sem perder o frescor e característica única da técnica de aquarela. Eu gosto muito de artistas que se expressam de uma forma espontânea, como a Maira Kalman. Já fui muito inspirada pelo Liniers também, e por Os Gêmeos.

Como você começou a desenhar e pintar?
Diz minha mãe que com dois aninhos eu fiz uns bonequinhos toscos mucholoks e falei que eram ela e meu pai, haha.

Saiba mais sobre o oficina Aquarelos aqui.