Cinema

Não sei se entendo de cinema, mas sei que gosto. E pra mim é suficiente. Quando eu assisto um filme me dedico àquele momento. Os preferidos, “os pra vida” como eu gosto de dizer, assisto mais de uma vez, assim, ao acaso, quando passam na TV.

Tudo seria diferente se as críticas dos teóricos da Escola de Frankfurt, que chegaram no aos estudiosos da comunicação e das ciências sociais, no início da década de 60 com os nomes de “indústria cultural”, “sociedade de massa” e “reprodutibilidade técnica” (essa última por Walter Benjamin), tivessem vingado, hoje, Hollywood provavelmente não existiria… e nem toda a safra de ótimos filmes estrangeiros, como os argentinos, para citar um exemplo. Mas o poder das imagens não se rendeu. Do mudo e preto e branco, ao com som e colorido. E em 3D. E em 4D. O cinema reinou, reina absoluto. Mais que entretenimento, cinema é magia, é emoção. Você chora, ri, tem medo, se apaixona, pensa, não pensa, torce por alguém, sente raiva, medo. Cinema é experiência.

Minha primeira experiência, when I realized o cinema, foi acredito que aos 5 anos de idade e não foi no cinema, mas no chão da sala da casa dos meus pais, no início dos anos 70. Eu não tinha idade para assistir aquele filme, ou estar acordada aquela hora, mas convenci meu pai, que ficaria ali, dormindo num amontoado de cobertores e mantas no chão, só pra fazer companhia a ele. E não assisti mesmo ao filme, ou não ao filme todo; mas ainda pirralha vi o bastante para jamais esquecer a cena de um homem (lindo!) fugindo de moto num campo, um campo mesmo… com colinas, árvores e… cercas. E atrás dele, vários homens uniformizados. Soldados. Isso eu reconheci, afinal estávamos nos anos 70.

Não era uma cena comum, não era uma moto comum. Não era um homem comum. Nunca esqueci esta cena. Mas cresci sem saber qual era o filme, quem era o ator, do que ele fugia, e como terminava a fuga! Ele era o mocinho? Ou o bandido? Não perguntei ao meu pai, ou talvez tenha perguntado. Não lembro. Me tornei adulta e comecei a assistir filmes na companhia da minha mãe que adorava cinema desde mocinha. Muitos filmes vieram, e vez ou outra, vinha aquela lembrança antiga e a pergunta: que filme era aquele?

Comecei a guardar os bilhetes de cinema como uma recordação do meu momento cinema. Não queria esquecer os nomes dos filmes que eu assistia. Um dia, minha mãe, sugeriu que eu anotasse os filmes, fizesse uma lista mesmo, com todas as informações. E foi assim que comecei a listar meus filmes em uma planilha de excel. A lista crescia mas não encontrava o filme aquela filme que tinha me marcado. E muito antes do livro “1000 filmes que você tem que ver antes de morrer”, eu já tinha minha própria lista de blockbusters, clássicos, estrangeiros, cult, comédias, romances e etc.

Até que um dia, “A Fuga das Galinhas” (Chicken Run, 2000) chegou na telona em pleno dezembro do ano 2000. E foi este filme de animação que me levou a descobrir o primeiro filme da minha vida.

Talvez você não saiba, e eu também não sabia, mas a divertida e genial animação foi inspirada no filme “Fugindo do Inferno” (The Great Escape, 1963). Quando li isso em algum lugar com as imagens da referência, corri atrás do tal filme e aí entra em cena a sonoplastia do leão da Metro Goldwyn Mayer… enfim, meu filme!

Sem spoiler, conto só o suficiente pra dar vontade (ou não) de você incluir na sua lista. Cenário: Segunda Guerra, um campo de concentração nazista projetado para impedir qualquer tipo de evasão, abriga prisioneiros militares com maior incidência de tentativas de fuga. Entre eles, um grupo hábil, planeja provar que pode derrotar o esquema do campo nazista com uma fuga muito bem elaborada. Entre eles, um norte-americano, da aeronáutica, que é o protagonista do filme e quem pilota literalmente a cena que ficou anos na minha memória. Filme de guerra dos bons.

Ora mas, você pode se perguntar, por que eu, menina, mocinha, e já mulher gostei tanto de um filme de guerra? E um filme velho de guerra? Mocinhas e fashionistas, mesmo que vocês não curtam o gênero, rendam-se ao deus Steve McQueen, mais conhecido como The King of Cool. Por favor. Dono de um estilo único, (usava relógio na mão direita), seu figurino – t-shirt surrada, calça chino, mala de lona, óculos Persol, suas indefectíveis botinhas chukka boots e a “A” jaqueta de couro – influenciou toda uma geração e se transformou em uma das principais tendências da moda: a do estilo aviador. Copiado e copiado por muitos ontem, hoje e sempre.

Também não dá pra passar despercebida a moto do galã, uma estilosa Triumph T60. Sem contar, a presença masculina, sexy e cool de Mr. MacQueen. Filme referência para quem navega nos mares fashionistas e do cinema.

No link abaixo está a cena do filme que fez eu com que eu me perguntasse, no início dos anos 70, entre 4 e 6 anos, uau que filme é esse?

Fugindo do Inferno (The Great Escape, 1963), direção John Sturges. Com Steve McQueen (Hilts ‘The Cooler King’), James Garner, Charles Bronson, David McCallum, entre outros.

Mais sobre o estilo McQueen (na versão romance!), veja também:
– Os implacáveis (The Getaway, 1972, direção de Sam Peckinpah). McQueen contracena com a atriz Ali MacGraw, com quem viveu um tórrido romance. Acabaram se casando e durante 5 anos foram um dos casais mais noticiados na época. O filme ganhou remake em 1994 com Kim Bassinger e Alec Baldwin (casados na época o que gerou cenas verdadeiramente tórridas). Direção de Roger Donaldson.
– Crow, o Magnífico (The Thomas Crown Affair, 1968, direção de Norman Jewison) McQueen atua com Faye Dunaway. O remake é de 1999, com Pierce Brosnan e Rene Russo. Direção de John McTiernan.