Lulina Cheia de Pantin

Por Don’t Touch My Moleskine

Poderia dizer que conheço Lulina de outros carnavais de Olinda, mas nem é. A gente se conheceu pela internet, compartilhando um amor louco pelo Belle and Sebastian e muitos emails gigantes, daqueles em que a gente conta a vida toda, quase todo dia.

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Nos vimos em Recife quando eu ainda morava lá e ela dava umas passadas, vinda de São Paulo. Eu ouvia os discos que ela fazia em casa (e desde então amo várias de suas músicas, principalmente “Do You Remember Laura?” e “Meu Príncipe”), ia em muitos de seus shows. Fazíamos piqueniques e previsões de como seria o próximo ano – e como eu queria encontrar os caderninhos onde a gente anotava dos mais simples aos mais ousados desejos!

Lulina lançou seu segundo disco gravado em estúdio, o “Pantim” e fez um show dia 22/11, no Sesc Belenzinho. Aproveitei pra conversar com ela, fazendo umas perguntas bem atemporais e outras mais focadas na carreira e no novo disco.

Espero que vocês gostem da conversa! ♥

– Qual é a música que mudou a sua vida?
Não diria uma música, mas uma banda. Velvet Underground. Muitas músicas de Lou Reed fizeram a diferença na minha vida.

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– E qual música sua você ouve e entende como algo poderoso, que vai mudar a vida de alguém?
É muito difícil acertar que música teria esse poder, pois nem todo mundo consegue ser tocado pelas mesmas palavras e melodias. Acho que só quem pode responder a essa pergunta é quem está na platéia. Do disco novo, muitas pessoas comentaram comigo sobre duas canções que as tinham tocado profundamente: “Prometeu sem cadeado” e “Areia”.

– Conta um pouco sobre sua trajetória? Quando você se descobriu artista, quando começou, quando tocou pela primeira vez, como começou a ser reconhecida?
Não tenho uma formação musical tradicional, comecei a compor oficialmente aos 15 anos (apesar de já gostar de criar músicas desde uns 9 anos) e tive como professor na adolescência Raul Seixas, através das revistinhas de cifras que eu comprava em Olinda. Comecei a gravar discos em casa em 2001 e nos anos seguintes, a fazer shows com uma banda formada por amigos, em Recife. Ao me mudar para São Paulo, recebi o convite da Yb para gravar meu primeiro disco oficial, depois que ouviram os discos caseiros que eu costumava gravar antes. Nessa época, eu já fazia bastante show no circuito indie de São Paulo. “Cristalina” (2009, Yb) é ao mesmo tempo o meu primeiro disco oficial e também um “the best of” dos 6 discos caseiros gravados anteriormente. O disco foi muito bem recebido por crítica e público, e comecei a fazer shows maiores e a me dedicar cada vez mais à carreira artística. Agora estou lançando o “Pantim”, meu segundo disco pela gravadora Yb, ao mesmo tempo meu 12˚ disco, se eu contar com as produções caseiras, e ao mesmo tempo meu primeiro disco realmente novo (já que o “Cristalina” era uma compilação).É tudo meio fora do padrão mesmo, seguindo o flow da vida e do que dá vontade de compor e lançar.

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– Como você define a sua música?
Não sei. Esses dias ouvi um cara definir como “ressaca em dia de sol”. Acho que é isso mesmo. Por sinal, ressaca é um dos momentos mais criativos para mim – fico mais sensível e, se deixar, componho um disco inteiro em um dia de ressaca.

– O que inspira você a criar? O que você quer dizer com o que faz?
Acontecimentos da vida e também a morte me inspiram a criar. A música acaba sendo um diálogo que mantenho comigo mesma e que divido com quem mais se interessar pelo assunto. Não tenho nenhuma intenção específica ao fazer música, apenas é uma atividade que amo, que é tão natural quanto falar, e que me deixa feliz muito mais pelo fazer em si do que pelo resultado que dá. Mas gosto de torcer para que a música que eu faço seja ao menos uma boa companhia, quem sabe um bom amigo, para quem ouve.

– Você cresceu sendo influenciada pelo que? E quais são suas principais referências hoje?
Cresci influenciada por Super Nintendo, Playmobis, revista Mad – foi musicando um texto da revista Mad que compus uma das minhas primeiras canções, por volta dos 10 anos de idade -, literatura russa, festas da família regadas à cerveja, arrumadinho e cozido, Rita Lee e Elton John na vitrola da minha mãe em Olinda, Nirvana e NBA na adolescência, Velvet Underground, Mutantes e Yo La Tengo na faculdade, e nos últimos anos, Tom Zé, Erasmo, Connan Mockasin, Will Oldham, escritores como Philip Roth e David Foster Wallace, Tibete.

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– Tem alguma frase que seja seu lema?
Uma frase que a minha vó repetia pra mim, sempre que me via correndo de um lado pro outro, aperriada com trabalho ou com outras preocupações: “A vida é mais importante”.

– E conta sobre o “Pantim”? É seu segundo disco em estúdio. O que a gente vai ouvir? Um disco influenciado pelo que, com participação de quem, que diz o que sobre esse seu momento de vida?
“Pantim” contém músicas compostas em 2011 e 2012 e que parecem ter como fio condutor uma discussão sobre o egocentrismo e o buraco negro que ele provoca. A palavra pantim quer dizer dar chilique, espernear, e é mais usada no Nordeste. O disco tenta buscar algum sentido em tudo o que fazemos e conquistamos, com uma linguagem mais direta, numa gravação com toda a banda ao vivo, praticamente. É diferente do “Cristalina” na forma, mas é muito parecido com ele no conteúdo – se antes as metáforas e o humor escrachado disfarçavam os questionamentos, agora eles são colocados de forma direta, com algum humor, mas sem ironia e sem rodeios. Os mesmos assuntos, antes tratados de um jeito escapista, agora vêm à tona de um jeito mais realista.

As fotos de Lulina foram feitas pela Ana Shiokawa.

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